terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Quem é que vai pagar por isso?

Nos últimos dias as TVs e principalmente a TV Globo vêm mostrando com veemência os problemas do sistema de saúde pública do Brasil.
O soneto de uma nota só, dizer que o grande problema do SUS é a falta de recursos, chega a ser cansativo e me parece que tenta nos trazer a imagem de que, se todos nós pagarmos um pouquinho mais de impostos, tudo ficará do jeito que sempre sonhamos.
Querer esconder essa verdade absoluta, a falta de dinheiro para gerir esses sistema, seria desonesto, mas taxar um pouco mais as pessoas sem antes vedar buracos imensos nas gestões municipais, estaduais e federal, é mais desonesto ainda.
Conheci de perto o sistema de saúde cubano e não é nada da maravilha tão propalada por amantes daquela ditadura, muito pelo contrário! O único fator favorável àquele sistema é o fato de produzir muitos médicos e esses não terem o poder de escolha em que lugar ou país trabalhar.
De resto, nossos sistema é muito melhor e mais completo que o sistema "exemplar" de Cuba.
Quando faço essa defesa, até parece que sou um defensor do SUS. Na verdade, já fui! Hoje não sou mais, pois vivi por alguns anos como gestor em uma cidade e percebi que os obstáculos são intransponíveis e que jamais conseguiremos dar conta de atender a toda população da forma mais eficaz possível.
Começamos pelos profissionais médicos que por sua pouca quantidade acabam tendo o poder de decidir onde e quando trabalhar e mais, como trabalhar!
Investigações sobre médicos que não cumprem o plantão recebido virou sistemático e a falta de punição dos maus profissionais, mais sistemática ainda. Afinal, o importante é ter o médico no plantão!
Falando dos outros profissionais, acabamos por estar diante de um problema que não foi criado por eles, mas que acaba de certa forma, impedindo a melhoria da qualidade: a estabilidade no cargo público, a impossibilidade de colocar regras motivacionais, meritocracia, tudo o que as empresas privadas já realizam há mais de décadas! Temos então: servidores mau remunerados, desmotivados e com pouca vontade de melhorar.
E a qualidade dos gestores? Sim, temos um outro sério problema e sem solução. Temos dois extremos, o gestor técnico que entende que todo investimento deve ser feito para entregar a melhor saúde possível, olvidando que existe uma peça orçamentária que deve ser respeitada e temos o gestor político, que pouco se preocupa com os resultados técnicos e toma as decisões de acordo com os interesses políticos da cidade, também se preocupando pouco com a peça orçamentária. Enfim, poucas são as exceções, onde conseguimos em um só profissional, qualidade técnica e habilidade política.
Por fim, temos uma população pouco educada que busca o serviço de emergência sem necessidade, bebe, fuma, não faz exercícios físicos regularmente e acaba tendo sua vida de qualidade encurtada, aumentando a necessidade de mais atenção, sem contar o envelhecimento de nossa população.
Sim, meu olhar é muito pessimista e acabo atraindo muitas críticas por pensar dessa forma, mas sempre justifico, ponto a ponto, e poucos conseguem realizar o contraponto.
Não poderia faltar nessa análise o subfinanciamento do SUS, mas não posso deixar de citar que possuímos um grande número de profissionais burocráticos nessas pastas, empresas públicas (Hemobrás, por exemplo!), que acabam usufruindo da mesma verba e faltando para o projeto fim - cuidar da saúde do povo brasileiro.
Com isso, antes de criar um novo imposto, muita coisa deve ser feita e quem sabe assumir que o público não tem a competência necessária de atender aos anseios de 200 milhões de habitantes.

Por Marcelo Di Giuseppe


 

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