quarta-feira, 19 de novembro de 2014

País anestesiado!

Assistimos a um país anestesiado e conformado com tudo o que ocorre de ruim em seu perímetro tais como latrocínios, roubos gigantescos e corrupção desvairada;
Por outro lado, vemos um povo tão cético que chega a ser incapaz de se emocionar diante de um fato triste ou feliz do dia-a-dia tais como: uma criança pedindo comida, um senhor implorando por um medicamento ou uma senhora sendo assaltada em plena luz do dia.
Assistir a um ou mais ônibus queimados por bandidos, tratados apenas como vândalos pela imprensa não causa mais estranheza e raiva por saber que as pessoas que precisam do transporte público estão sendo ainda mais prejudicadas, pelo contrário, causa em meia-dúzia de imbecis um sentimento de satisfação por saber que o dono da frota terá problemas para recompor-la.
O Brasil vem se tornando a cada dia que passa um país mais triste, sem graça, sem inteligência, sem futuro.
A maioria da população não sabe onde chegará, mas sabemos onde não conseguiremos chegar.
Uma sociedade justa se faz com honestidade, trabalho, honra, produtividade, suor, mérito, virtudes essas que são cada vez mais colocadas de lado em busca de uma tal justiça social realizada em cima de uma escrivaninha, sob o ar-condicionado de um gabinete fechado.
A voz das ruas é bem diferente do que os burocratas imaginam e as necessidades da maioria não será suprida a base de canetadas.
Nossa Seleção Brasileira é um reflexo dessa sociedade sem alma! Se antes todos corriam para casa para assistir a jogo do selecionado, hoje em dia, ninguém faz a mínima força para ver os lances geniais de Neymar e companhia.
A modernidade já não ajuda muito com redes sociais e outras formas de comunicação que ao invés de aproximar as pessoas, acabam por criar relacionamentos distantes, frios e falsos.
Quando foi a última vez que você passou uma pessoa desconhecida e lhe deu "bom dia"?
Quando foi a última vez que você foi cumprimentado por um estranho dentro do elevador?
Pois é, parece estranho dizer isso, mas há alguns anos atrás, isso era mais do comum, era obrigação!
Pais pedem por escolas integrais não preocupados com o aumento da qualidade do conhecimento dos filhos, mas para mantê-los por mais tempo dentro da escola por segurança e para ter mais tempo para sua atividade profissional, ou não.
Nossas pesquisas apontam sempre para o mesmo horizonte quando tocamos no assunto educação. Pais entendem que a qualidade do ensino é boa quando a escola possui merenda, uniforme, material escolar e são incapazes de saberem a nota do Ideb da instituição onde depositaram seus filhos. Aliás, sempre questionam o que seria o tal Ideb...
Sou obrigado a manter minha casa cerca por fios eletrificados, com alarme acionado, com cão sempre alerta para conquistar um pingo de sensação de segurança, mesmo sabendo que serei obrigado a sair desse meu castelo por algumas horas e correrei muitos riscos nas ruas das cidades.
Nosso futuro será trágico enquanto a educação continuar tendo tratamento desleixado por administradores públicos e irresponsável pelo pais.
Sim senhores, sou cético quanto ao nosso futuro e não vejo solução tão cedo para o nosso país. Pior do que isso: vejo um 2.015 com muitas passeatas, confusões e aumento de desemprego...
Uma pena!

Por Marcelo Di Giuseppe

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O Malandro útil


Há 4 anos trabalhei em Cuba por alguns dias na área de saúde pública.
Fui até esse lindo país, a pedido da OPAS - Organização Panamericana de Saúde, conhecer algum projeto que pudesse ser adaptado em nosso território.
Para um cientista social e político como eu, conhecer outros países é algo de muita importância e, outros países com regimes "diferentes" do nosso, é um sonho!
Na área da saúde pública, sem nenhum exagero, nada me surpreendeu, ou melhor, fiquei estarrecido com a diferença entre a propaganda alardeada pelo regime cubano e o que pude constatar.
A precariedade dos prédios e dos equipamentos assusta qualquer cidadão, menos os cubanos!
A única vantagem sobre o nosso sofrido SUS é o número excessivo de médicos. Aqui cabe uma ressalva, já que, a partir de informações dos próprios profissionais médicos cubanos que tiveram a oportunidade/autorização de um dia sair da Ilha, a sua formação está muito aquém de outros países, pois é focada na medicina comunitária, de baixa complexidade.
Outro ponto fundamental é falta de tecnologia que hoje em dia é tão necessária para a realização de uma medicina de qualidade.
O mais interessante porém, foi o contato diário com trabalhadores, estudantes, famílias cubanas que com o passar do tempo e a conquista de sua confiança me falavam, às escondidas, o que sentiam com relação ao regime comunista do país.
Pude constatar a diferença física marcante entre aqueles que estão mais próximos dos comandantes do regime e da população em geral. Nota-se que, quem tem poder, consome muito mais calorias do que o povo em geral, que farta-se com pedaços pouco valorizados de pollo, e de vez em quando.
O meu maior contato foi com um médico que me apresentou sua esposa e filhos, seu pobre apartamento e me presenteou com livros e gibis do governo, já que o assunto revolução e embargo são as grandes fontes de inspiração da educação e cultura do país.
Em sua casa pude assistir novamente capítulos da novela brasileira A Favorita, a única diversão da família! Me chamava atenção a baixa qualidade dos programas de TV, o tempo todo exaltando "conquistas" dos cubanos e do regime. Como no livro 1984, sempre alertavam a população sobre os inimigos que poderiam chegar!
Um detalhe curioso e muito engraçado foi o dia em que a TV anunciou a derrota por 3 sets a 0 da seleção feminina de volei cubana contra a seleção brasileira. Os adjetivos heroínas e maravilhosas meninas eram destacadas com grande fervor pelo narrador, enquanto uma cena congelada de um ponto antigo conquistado pela equipe cubana sobre a seleção brasileira, mantinha-se na TV!
Passei por alguns maus momentos e creio que o maior foi em uma noite, após às 23hs, quando no saguão do hotel, assistia a um grupo de salsa, maravilhoso por sinal, quando um carro escuro parou e desceu de forma abrupta 4 homens muito fortes e grandes com um volume estranho em baixo de suas camisas. Pensei em se tratar de um arrastão e fiquei congelado esperando a abordagem. Um deles veio até a mim e pediu para ver meus documentos. De pronto apresentei meu passaporte brasileiro e fui tratado com muito respeito, não por ser do país do futebol, mas por ser de um país amigo.
Todos foram verificados, nada foi encontrado e o grupo se retirou.
Esses foram apenas alguns exemplos de tudo o que vi e vivi em Cuba, muito diferente do que os turistas veem quando se hospedam em Varadero e por um dia passeiam em Havana, onde são apresentadas as belezas turísticas e culturais da capital.
Lá pude conhecer de perto os idiotas úteis - pessoas que defendem uma ideologia decadente, por acreditar cegamente nela - que existem em todos os lugares do mundo, que se revesam com os asseclas do poder, que passam o dia elogiando as grandes conquistas da revolução.
No Brasil não é diferente, temos os idiotas e os asseclas do poder.
O maior problema porém, é a queda vertiginosa do número de idiotas úteis que dão lugar a um crescente número de pessoas - artistas, intelectuais, ativistas - que a cada ano que passa, colocam preço pela defesa dessa ideologia.
Como o Estado não gera riqueza, alguém paga por essa conta, esse investimento feito pelo poder central. Ou seja, o povo!
Com o tempo, não haverá mais idiotas úteis já que todos querem de alguma forma ser beneficiado pelo bolo estatal e não aceitam mais sair fechando ruas e avenidas sem receber por essa tarefa.
Uma nova classe nasce com a extinção dos idiotas úteis: o malandro útil.

Por Marcelo Di Giuseppe